terça-feira, 31 de julho de 2007

Poder do esporte

Bruno Guedes

No último domingo, o desconhecido Jorvan Vieira comandou a inusitada seleção do Iraque ao título da Copa da Ásia de futebol. Um título que para nós brasileiros pode parecer irrelevante, mas, que reúne as mais tradicionais equipes do continente, como a Arábia Saudita (que perdeu para os iraquianos na decisão), Japão, Coréia do Sul, China e Austrália (não assustem, desde o ano passado a federação australiana se filiou a confederação asiática, em busca de disputa técnica mais elevada).

Em entrevista a uma emissora de televisão, Jorvan falou que em um país tão heterogêneo e tão conturbado, foi uma tarefa difícil comandar a seleção com jogadores xiitas, sunitas, cristãos. Entretanto, em nenhum momento os atletas tiveram problemas entre si, se uniram em prol de uma vitória mais do que esportiva. Jorvan revelou o desejo que eles tinham em mostrar ao povo iraquiano que a união entre diferentes povos deve trazer algo bom e não violência. Enquanto isso, todo o povo do Iraque parou para assistir as seis partidas que fizeram a seleção campeã. E a guerra parou durante cada um desses noventa minutos.

Não foi a primeira vez que um conflito cessou para o esporte. Na década de 60 o Santos de Pelé fez uma excursão no continente africano e em um amistoso na Nigéria, conseguiu parar uma guerra civil que durava décadas. Infelizmente, o Rei do Futebol não estava lá todos os dias, mas, enquanto a bola rolou, certamente, pairou a esperança de um futuro melhor através do esporte.

E como no Iraque, o Brasil, devastado não por uma guerra, mas pela desigualdade social, cada vez mais se ampara no esporte. Um remédio eficaz contra violência, e uma oportunidade inigualável. Não falo dos que chegam ao alto nível de competitividade. Em centros esportivos localizados em áreas carentes, a minoria se torna atleta, mas todos ganham uma vida nova, se educam e ficam longe da vida de crimes. Além disso, a nova geração de classe média-alta, passa a ter no esporte seu único momento de real contato social. Saem da frente do vídeo game e do computador, para aprender o valor da palavra equipe. Viva o esporte! A saída real para muitos males de nosso mundo.

* Em tempo: Jorvan Vieira não renovou o contrato com a federação iraquiana, devido as tensões vividas no país, causadas pela guerra. Na mesma entrevista acima citada, Jorvan disse que o medo dele e de seus familiares foi o principal fator de sua saída do comando da seleção. Especula-se que ele foi convidado para assumir a seleção da Coréia do Sul, até a Copa de 2010.

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