Henrique Fernandes
Final de campeonato Carioca. O certame, é a 210 quilômetros de minha casa, mas meu espírito está lá, vidrado no gramado do maior do mundo. Até o apito inicial do árbitro, ainda estou na primeira partida da decisão. 2 a 2 de dois jogos em um, que só serviram para começar tudo de novo na partida decisiva e para prenunciar um jogo épico. E ele veio.
O primeiro tempo, como sempre, de estudo. Dois times que se respeitam, duas torcidas que se respeitam, dois treinadores que se respeitam. Bola rolando e coração disparado. Eu, em casa, envergo a camisa tradicional que já começa a mostrar o desgaste do uso contínuo e apaixonado. Nos olhos que não desgrudam da tela, a esperança no título, no peito, a estrela. Primeiro tempo encerrado e nada: 0 a 0.
O segundo tempo começa e não tarda o grito de gol. Numa arrancada sublime de Juan, Souza estufa as redes de Max. 1 a 0 Flamengo. Juan se joga ao chão no gramado, crendo ter feito a jogada para o gol do título, se engana.
Demoram três minutos até Lúcio Flávio cruzar e Juninho marcar de cabeça o gol que recolocou o Botafogo no campeonato. Cruzamento excepcional de Lúcio Flávio, cabeçada certeira de Juninho. Lúcio Flávio. Juninho. O destino guarda algo que jamais esquecerão para dali a alguns minutos. Em uma jogada de superioridade, técnica, maestria e heroísmo, o artilheiro absoluto Dodô recebe frente a frente com Bruno e o encobre, a bola morre mansa, abraçada nas redes do Maracanã. Dodô. Bruno. 2 a 1 Botafogo. Uma virada com autoridade e belíssimo futebol. Tudo isto em menos de cinco minutos.
Aí a lógica dá lugar à mística. Um jovem de 19 anos corre indomável pela intermediária. Enverga a dez de Zico. A dez da salvação. Seu nome é Renato Augusto, o prodígio do Flamengo que não chuta bem. Eis que "aquele que chuta mal" remata de longe, um petardo forte que só pára nas redes de Max. Um chute maestral, inimaginável. 2 a 2 de um empate que coloca a decisão nos pênaltis.
O tempo se arrasta e as grandes penalidades parecem inevitáveis, mas o destino ainda reserva um sortilégio. O derradeiro. Jogada isolada do ataque do Botafogo, a última jogada do melhor ataque do campeonato.
Jorge Henrique toca por elevação e coloca o artilheiro do Campeonato com 13 gols, Dodô cara-a-cara com o goleiro Bruno. É o último lance da decisão, último minuto. Lance fatal. Dodô corre e alcança a bola. Com um toque, coloca-a a sua frente, à sua feição e finaliza no canto de Bruno, marcando o que seria o gol do título Alvinegro. O bandeira marca impedimento incorretamente, e parte o coração da torcida Botafoguense. O árbitro expulsa o heróico Dodô, alegando que o artilheiro teria chutado a bola depois de seu apito. Dodô chutou, eu também chutaria. A última bola, na cara do goleiro, com um jogador da capacidade de Dodô. Aquela bola tinha que morrer na rede, mesmo que fosse por um gol virtual.
Pênaltis.
Lúcio Flávio, exímio chutador, bate com categoria no canto esquerdo de Bruno. Bruno voa e alcança a bola. O Botafogo está abatido pela perda de seu artilheiro e por ter sido usurpado dele o direito de ser campeão por ter jogado o futebol mais bonito que se viu no Rio nos últimos anos. Tem coisas que só acontecem com o Botafogo.
Agora é Juninho que vai à bola. Bruno defende, a bola beija o travessão e caprichosamente volta à campo. Bruno, o herói pega a segunda penalidade. A segunda perdida por um artíficie do gol de empate alvinegro, aquele que lançou o Botafogo de volta a disputa aos 11 do segundo tempo. Eu disse que o destino lhes reservava algo para aquele dia. Tem coisas que só acontecem com o Botafogo.
O Flamengo está perfeito nos pênaltis, o Botafogo, ferido. Leonardo Moura decreta o título. Flamengo campeão. Alegria para 70% dos presentes no estádio. Torcedores que apoiaram o Flamengo quando o time estava na pior, vindo de uma traumática derrota no exterior, torcedores que confiaram e que foram presenteados. Agora são eles que dizem: "Somos campeões". São eles que conferem a grandeza a este time do Flamengo, que por seus jogadores é medíocre, mas que cresce com a camisa Rubro-Negra e com o grito da torcida.
Fica assim decidido o campeonato carioca. Justiça? Futebol em nada tem a ver com justiça. Mas ao analisarmos friamente a decisão, compartilho da opinião de Carlos Augusto Montenegro, vice-presidente do Botafogo: "O time do Botafogo merecia este título, a torcida do Flamengo também". Então está justo para os que gostam de justiça. Mas eu sou Botafoguense e tenho que expressar o que sinto. Quero hoje falar como torcedor. Sinto uma estranha sensação de superioridade. Sinto que o Flamengo ganhou mais não levou, já que o que ficará na memória é o futebol vistoso, bonito de Dodô, Zé Roberto, Lúcio Flávio, Túlio e não os pênaltis bem batidos por Juan, Léo Moura, Renato e pelo inexpressivo Roni. E foi isso que fez a minoria Botafoguense no Maracanã aplaudir seu time, confiantes de que o mundo não acabou com o pênalti decisivo.
A torcida do Flamengo sabe que o Fla venceu o campeonato e está feliz por isso. Mas sabe que venceu jogando pior que o adversário, sem vencer um único clássico, e que pode de uma hora pra outra, levar de três para um Defensor da vida e não ter forças para reagir. O Botafoguense sabe que o time perdeu e está triste por isso. Mas sabe que perdeu jogando melhor que o adversário, sem perder um único clássico e que pode de uma hora pra outra golear um adversário e não contar com outros fatores para perder um título seu. Dá até pra sentir o gostinho doce da vitória. O Botafoguense confia em seu time.
Coisas do futebol: um campeonato, dois campeões.
O primeiro tempo, como sempre, de estudo. Dois times que se respeitam, duas torcidas que se respeitam, dois treinadores que se respeitam. Bola rolando e coração disparado. Eu, em casa, envergo a camisa tradicional que já começa a mostrar o desgaste do uso contínuo e apaixonado. Nos olhos que não desgrudam da tela, a esperança no título, no peito, a estrela. Primeiro tempo encerrado e nada: 0 a 0.
O segundo tempo começa e não tarda o grito de gol. Numa arrancada sublime de Juan, Souza estufa as redes de Max. 1 a 0 Flamengo. Juan se joga ao chão no gramado, crendo ter feito a jogada para o gol do título, se engana.
Demoram três minutos até Lúcio Flávio cruzar e Juninho marcar de cabeça o gol que recolocou o Botafogo no campeonato. Cruzamento excepcional de Lúcio Flávio, cabeçada certeira de Juninho. Lúcio Flávio. Juninho. O destino guarda algo que jamais esquecerão para dali a alguns minutos. Em uma jogada de superioridade, técnica, maestria e heroísmo, o artilheiro absoluto Dodô recebe frente a frente com Bruno e o encobre, a bola morre mansa, abraçada nas redes do Maracanã. Dodô. Bruno. 2 a 1 Botafogo. Uma virada com autoridade e belíssimo futebol. Tudo isto em menos de cinco minutos.
Aí a lógica dá lugar à mística. Um jovem de 19 anos corre indomável pela intermediária. Enverga a dez de Zico. A dez da salvação. Seu nome é Renato Augusto, o prodígio do Flamengo que não chuta bem. Eis que "aquele que chuta mal" remata de longe, um petardo forte que só pára nas redes de Max. Um chute maestral, inimaginável. 2 a 2 de um empate que coloca a decisão nos pênaltis.
O tempo se arrasta e as grandes penalidades parecem inevitáveis, mas o destino ainda reserva um sortilégio. O derradeiro. Jogada isolada do ataque do Botafogo, a última jogada do melhor ataque do campeonato.
Jorge Henrique toca por elevação e coloca o artilheiro do Campeonato com 13 gols, Dodô cara-a-cara com o goleiro Bruno. É o último lance da decisão, último minuto. Lance fatal. Dodô corre e alcança a bola. Com um toque, coloca-a a sua frente, à sua feição e finaliza no canto de Bruno, marcando o que seria o gol do título Alvinegro. O bandeira marca impedimento incorretamente, e parte o coração da torcida Botafoguense. O árbitro expulsa o heróico Dodô, alegando que o artilheiro teria chutado a bola depois de seu apito. Dodô chutou, eu também chutaria. A última bola, na cara do goleiro, com um jogador da capacidade de Dodô. Aquela bola tinha que morrer na rede, mesmo que fosse por um gol virtual.
Pênaltis.
Lúcio Flávio, exímio chutador, bate com categoria no canto esquerdo de Bruno. Bruno voa e alcança a bola. O Botafogo está abatido pela perda de seu artilheiro e por ter sido usurpado dele o direito de ser campeão por ter jogado o futebol mais bonito que se viu no Rio nos últimos anos. Tem coisas que só acontecem com o Botafogo.
Agora é Juninho que vai à bola. Bruno defende, a bola beija o travessão e caprichosamente volta à campo. Bruno, o herói pega a segunda penalidade. A segunda perdida por um artíficie do gol de empate alvinegro, aquele que lançou o Botafogo de volta a disputa aos 11 do segundo tempo. Eu disse que o destino lhes reservava algo para aquele dia. Tem coisas que só acontecem com o Botafogo.
O Flamengo está perfeito nos pênaltis, o Botafogo, ferido. Leonardo Moura decreta o título. Flamengo campeão. Alegria para 70% dos presentes no estádio. Torcedores que apoiaram o Flamengo quando o time estava na pior, vindo de uma traumática derrota no exterior, torcedores que confiaram e que foram presenteados. Agora são eles que dizem: "Somos campeões". São eles que conferem a grandeza a este time do Flamengo, que por seus jogadores é medíocre, mas que cresce com a camisa Rubro-Negra e com o grito da torcida.
Fica assim decidido o campeonato carioca. Justiça? Futebol em nada tem a ver com justiça. Mas ao analisarmos friamente a decisão, compartilho da opinião de Carlos Augusto Montenegro, vice-presidente do Botafogo: "O time do Botafogo merecia este título, a torcida do Flamengo também". Então está justo para os que gostam de justiça. Mas eu sou Botafoguense e tenho que expressar o que sinto. Quero hoje falar como torcedor. Sinto uma estranha sensação de superioridade. Sinto que o Flamengo ganhou mais não levou, já que o que ficará na memória é o futebol vistoso, bonito de Dodô, Zé Roberto, Lúcio Flávio, Túlio e não os pênaltis bem batidos por Juan, Léo Moura, Renato e pelo inexpressivo Roni. E foi isso que fez a minoria Botafoguense no Maracanã aplaudir seu time, confiantes de que o mundo não acabou com o pênalti decisivo.
A torcida do Flamengo sabe que o Fla venceu o campeonato e está feliz por isso. Mas sabe que venceu jogando pior que o adversário, sem vencer um único clássico, e que pode de uma hora pra outra, levar de três para um Defensor da vida e não ter forças para reagir. O Botafoguense sabe que o time perdeu e está triste por isso. Mas sabe que perdeu jogando melhor que o adversário, sem perder um único clássico e que pode de uma hora pra outra golear um adversário e não contar com outros fatores para perder um título seu. Dá até pra sentir o gostinho doce da vitória. O Botafoguense confia em seu time.
Coisas do futebol: um campeonato, dois campeões.
3 comentários:
Caro Henrique, belo post.
Mas... fazer o que? O futebol tem seus encantos, a sua mística.
Acredito num Flamengo embalado para amanhã contra o Defensor, hem... Não sei nao... Quando o Maraca lota, o Flamengo joga com 15!!!
Abraço.
Henrique, escrever bem já sabia que vc escrevia, bem como fala muito bem no Resumo Esportivo. Agora, o Flamengo não tem jogadores tão medíocres como você falou. Renato, Renato Augusto, Bruno, Paulinho são bons jogadores. Até o Souza tem desencantado em jogos decisivos. O Botafogo tem jogado bonito, mas como um time pode ser considerado "o melhor" sendo que ainda não ganhou bulhufas??? Agora, claro, como não te encontrei depois do título: paixão por paixão, eu sou mais Mengão!!! hehehehe...
Um abraço meu brother!!!!
Henrique como eu previ no sábado aqui em casa nao vale reclamar da arbitragem.Hehe.Bricadeiras a parte seu texto está impecável e concordo com você que o botafogo é a melhor equipe carioca e que a torcida do mengo teve muita participação no título.Time medíocre o Fla não tem mas o Bota foi superior nos dois jogos da final!`
É Campeâo!
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